DIREITOS HUMANOS PARA AS PESSOAS DE BEM, CADEIA PARA OS BANDIDOS

DIREITOS HUMANOS PARA AS PESSOAS DE BEM, CADEIA PARA OS BANDIDOS

sábado, 10 de dezembro de 2016

BH Suspeita de pedido de propina envolve delegado e agentes

Corregedoria da Polícia Civil pediu à Justiça afastamento de dois policias; um deles é da 2ª DP de Venda Nova


A Corregedoria da Polícia Civil investiga a suposta participação de policiais da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Venda Nova, na capital, em uma cobrança de propina para arquivar investigações sobre traficantes. De acordo com denúncia recebida pelo órgão, o delegado Leonardo Estevam Lopes, titular da unidade, estaria envolvido no caso. Por conta disso, a corregedoria entrou na Justiça com um pedido de afastamento do investigador e de um agente – que não teve a lotação informada. Pelo menos outros três policiais da equipe comandada por Lopes são investigados.
O processo na corregedoria foi instaurado depois que a corporação recebeu áudios em que um suposto delegado conversa com duas advogadas e com dois traficantes. Nos diálogos, o policial exige R$ 350 mil para retirar o nome de dois traficantes de uma investigação sobre venda de drogas. As advogadas e um dos traficantes afirmam não ter esse valor e negociam a propina.

A reportagem de O TEMPO teve acesso às gravações. Os áudios estão editados, e não há menções aos nomes dos policiais que participam nem das advogadas. Os traficantes são chamados de Sérgio e Gilberto. A voz atribuída ao delegado diz, no áudio, que os nomes deles apareceram nas escutas telefônicas realizadas pela Polícia Civil.

A pessoa justifica que o alvo era outro, mas que as provas contra os clientes das advogadas apareceram “por sorte”. O homem, então, passa a cobrar R$ 350 mil para apagar os registros dos traficantes do inquérito e das escutas telefônicas realizadas.

Uma das advogadas tenta negociar a propina e chega a oferecer R$ 100 mil, o que é prontamente rejeitado pelo suposto delegado. “Olha, doutora, R$ 100 (mil) é impossível. Eu prefiro tocar o barco pra frente”, diz na gravação e, em seguida, estipula R$ 350 mil como preço mínimo da propina. Em outro trecho, o suposto delegado explica o motivo de o valor ser alto. “Fora a turma aqui, que não é pequena... Eu tenho que deixar quieto aqui”, diz.

Outra gravação tem a presença de um dos traficantes, que, nos áudios, é chamado de Gilberto. O bandido pede um prazo de uma semana para levantar parte do dinheiro pedido pelo suposto delegado. “Até sexta-feira vai vir um dinheiro, o que eu vou conseguir eu não sei, pode ser R$ 100 (mil), pode ser R$ 50 (mil). Tudo que tem ali eu já vou vender e vou trazer o montante para você”, diz Gilberto.

O suposto delegado, então, dá um prazo de uma semana para que parte da propina seja paga e para discutir como seriam os pagamentos posteriores.

Afastamento. O pedido de afastamento do delegado e de um investigador foi apresentado no dia 1º deste mês. A Justiça ainda não analisou a ação.

Pelo Estatuto da Polícia Civil, os afastamentos do delegado e do agente poderiam ser feitos administrativamente, sem a necessidade de ação judicial. Porém, a corporação optou por levar a questão aos tribunais para dar direito à ampla defesa e evitar acusação de uma punição arbitrária. 

Ação. No pedido de afastamento do delegado Leonardo Lopes, consta a mesma ação para outro investigador da Polícia Civil. A corporação não confirmou nessa sexta-feira (9) o pedido de afastamento desse servidor.


GRAVAÇÕES

Veja um trecho das conversas entre as advogadas, os traficantes e o suposto delegado:

Suposto delegado: “Eu vou esquecer vocês, cara. Na verdade, eu quero esquecer vocês, cara. Eu quero é te ver na rua, tomando cerveja com sua família. Eu acho que, do jeito que eu falei, ficou bom, não ficou?”
Advogada: “Eles é que têm que falar, doutor.”
Traficante: Inaudível.
Suposto delegado: “Faz alguma no início da semana, já planeja alguma coisa para dezembro. Às vezes, as coisas melhoram, entendeu. Às vezes o Sandro já entra também.”
Advogada: “Quanto que vocês conseguem agora, de imediato, para essa sexta-feira agora? Vamos falar o papo reto.”
Traficante: “Posso fazer um compromisso com o senhor. Até sexta-feira que vem, vai vir um dinheiro. Eu não posso falar se vai vir R$ 100 (mil), se vai vir R$ 50 (mil), mas o que a gente vai fazer? O que tem ali eu já vou vender, vai correr, ele já vai mandar alguma coisa. Isso é certo.”
Suposto delegado: “Mas aí vai ficar um débito pra frente.”
Advogada: “A gente vai pagando, pode ser?”


OUTRO LADO

Policial diz não ter ouvido gravações

Um dos investigados por suspeita de envolvimento em um suposto caso de cobrança de propina de traficante, o delegado Leonardo Estevam Lopes, titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil (DP) de Venda Nova, falou nessa sexta-feira (9) com a reportagem de O TEMPO. Por telefone, o investigador reiterou que não foi comunicado oficialmente pela Corregedoria da Polícia Civil sobre o caso.

Ele disse que ainda não ouviu as gravações vazadas, que seriam dele em negociação com traficantes e advogadas. “Não vou me manifestar sobre algo que não fui informado. Vou aguardar. Não há como emitir opinião sobre algo que não sei”, afirmou o policial durante a conversa, que durou cerca de 13 minutos. “Pelo que eu vi, é uma escuta ambiental ilegal e fora de um contexto”, disse.

Lopes, que devido ao feriado estava de folga nessa sexta-feira (9), contou ainda que está na Polícia Civil há 13 anos, sendo que há dez anos está em Minas Gerais. Na 2ª DP de Venda Nova, ele contou trabalhar há dois meses. “Estou conhecendo as pessoas agora. Em quem posso confiar? Só em mim mesmo. Não sei o por que estão colocando isso na internet. Este caso está nebuloso”, declarou.

O delegado ainda disse que vê como positiva a investigação instaurada pela Corregedoria da Polícia Civil para apurar outros supostos envolvidos no caso. “Que investigue e que a verdade apareça”, afirmou. Lopes acrescentou que, se ao final não houver prosseguimento, ele vai “procurar seus direitos”.

http://www.otempo.com.br/cidades/suspeita-de-pedido-de-propina-envolve-delegado-e-agentes-1.1410126

Nenhum comentário:

Postar um comentário