VIOLÊNCIA Assaltos a ônibus na capital aumentam 81,7% em um ano

Média nos quatro primeiros meses é de mais de sete crimes por dia; câmeras não inibem bandidos

Risco. Celular é um dos principais alvos dos
criminosos, segundo cobrador; ele conta
que muitas vezes o dinheiro da passagem
nem é levado

O celular é recém-comprado, mas o modelo é bem antigo. Após ser assaltada duas vezes em menos de um ano dentro de um ônibus, a diarista Tereza de Castro, 42, resolveu trocar o smartphone por um celular mais simples, sem internet, mesmo que isso significasse se afastar das redes sociais. E ela não é a única passageira que vem adotando medidas de segurança para enfrentar o aumento de 81,7% nos assaltos a coletivos que circulam por Belo Horizonte. Nos quatro primeiros meses deste ano, foram registrados 874 crimes, contra 481 durante o mesmo período de 2015. Uma média, em 2016, de mais de sete assaltos por dia. Os dados são da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds).

“Eu tinha gastado mais de R$ 3.000 com os outros celulares, e eles foram levados desse jeito. Agora gastei R$ 100 nesse aqui, que nem WhatsApp tem. Esse foi meu jeito de evitar perder mais dinheiro do que já perdi, pois está difícil. A insegurança está muito grande, e nem cochilar aqui dentro podemos mais”, reclamou Tereza.

Avenida Nossa Senhora do Carmo seria uma das áreas mais visadas

E ela não foi a única a adotar alternativas de segurança. Onze de 13 passageiros ouvidos por O TEMPO declararam não circular mais com objetos de valor dentro dos ônibus. “A gente não tem segurança nenhuma, em nenhum lugar. Ando com pouco dinheiro e tenho evitado circular à noite de ônibus. Sempre procuro acabar minhas coisas antes e sair mais cedo. É melhor”, explicou a doméstica Judite Soares, 48. 

Motorista de ônibus há mais de dez anos, Jair Queres, 50, já perdeu as contas de quantas vezes foi rendido por bandidos. E o aumento no número de crimes é visível para ele. “Já teve vez de três assaltos em um só dia, nesses últimos tempos. Aumentou demais, e nosso único mecanismo é torcer para que nada de mais grave ocorra além do roubo”, contou.

Insuficiente. Todos os ônibus da capital têm câmeras de segurança ativas, equipamento incapaz de inibir a ação dos bandidos. “Eles não estão nem aí para elas. Parecem não ter mais medo de serem descobertos. E os criminosos não têm nenhum tipo de estereótipo. Já vi gente com roupa social que fez a limpa aqui”, declarou o cobrador Rubens Santos.

Apesar de ser o responsável por guardar o dinheiro das passagens, ele garante que, na maioria das vezes, nem chega a ser alvo dos bandidos. “Eles sabem que a gente não vai ter tanto dinheiro. O que eles querem mesmo é celular. Os principais prejudicados acabam sendo, de verdade, os próprios passageiros”, acrescentou.

Incêndios

Queixa. Outro problema relacionado aos ônibus é a queima de veículos em retaliação de criminosos ou em protestos da população. Segundo as empresas de ônibus, só neste mês foram três casos.

PM intensifica vigilância

Ciente do aumento de assaltos a ônibus em Belo Horizonte, a Polícia Militar informou estar intensificando o patrulhamento próximo a alguns pontos de ônibus. Um dos serviços que vêm sendo implementados é a instalação de bases comunitárias nesses locais.

“Em 2016, foram transferidos 136 militares da administração para o policiamento ostensivo. É realizado mapeamento dos locais onde os delitos ocorrem, com lançamento de operações específicas para essa modalidade criminosa. Além disso, incrementamos as orientações ao usuário do transporte público com dicas de segurança junto à instalação dessas bases comunitárias”, disse, em nota, a assessoria da PM.

A corporação também salientou que “de acordo com a lei federal 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos, é de responsabilidade do concessionário garantir a segurança do usuário”.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra) informou que para tentar reduzir os atrativos aos ladrões deu aos usuários a possibilidade de aquisição do cartão BHBus Usuário ao Portador”. O Setra ainda disse que todas as ocorrências são registradas e repassadas às autoridades, junto com as imagens das câmeras de segurança. (JC)

Saiba mais

Avenida. Um dos locais com mais reclamações é a Nossa Senhora do Carmo. É perto de aglomerados e área de fácil fuga.

Sábado. Em um dos casos mais recentes, uma mulher morreu em um roubo, em Venda Nova. Ela caiu do coletivo, e não se sabe se ela se desequilibrou ou se foi empurrada.

BHTrans. A empresa disse ser responsável só pela segurança em estações e que desde junho de 2015 as estações de transferência do Move têm vigilância.

Grupo rouba e incendeia

Um ônibus que trafegava pela BR–381, em Betim, na região metropolitana, foi incendiado por criminosos na madrugada de ontem. O crime aconteceu após o grupo assaltar os passageiros, na altura do bairro Vila Cemig. Nenhum suspeito havia sido preso até a noite de ontem.

Segundo as empresas, neste ano já foram seis veículos queimados na região metropolitana. (Carolina Caetano)

Dados

874 foi o número de assaltos a ônibus registrados em Belo Horizonte entre janeiro e abril de 2016.

481 foi o total de roubos registrados entre janeiro e abril de 2015.

1.764 foi a quantidade de assaltos em todo o ano de 2015.

Redação: Jornal o Tempo