DIREITOS HUMANOS PARA AS PESSOAS DE BEM, CADEIA PARA OS BANDIDOS

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domingo, 15 de maio de 2016

ENTREVISTA 'Não pense que o Michel vai dar uma canetada e resolver'

O Tempo
Amigo do presidente interino Michel Temer, Cardoso diz que será difícil que o peemedebista entregue o país com as contas em dia. O ex-governador também afirma que Temer deixou a bancada mineira do PMDB na Câmara insatisfeita ao não conceder ministério.

Qual a relação do senhor com o presidente interino Michel Temer? 

Conheci o Michel Temer em 1997, por meio do (Orestes) Quércia (devido à eleição para a liderança do PMDB). Quércia apoiava a candidatura de Michel Temer para o cargo, e me pediram apoio. Mas a Bahia já havia lançado a candidatura de João Almeida, e tínhamos decidido apoiar ele. Aí eu falei “Tá bom, senão tem jeito de apoiar o Quércia, não tem jeito”. E quando eu fui procurar o João Almeida para fazer a distribuição dos cargos para Minas Gerais, ele falou que Minas estava fora da mesa. E aí eu liguei para o Quércia e disse para mandar o homem dele para cá. O homem dele era o Michel Temer, e nós elegemos o Temer como líder do PMDB. E foi Minas que liderou esse movimento para ele. Nós fizemos ele líder. Então, a nossa ligação é dali. Pelas minhas mãos ele foi líder do PMDB, e apoiamos ele toda a vida. Já tiramos candidatura nossa para apoiar o Michel. Ele sempre teve apoio de Minas Gerais, até mesmo agora (na votação do impeachment). E agora o Michel está nos deixando em uma situação difícil (por não ter concedido, como havia prometido, uma pasta para a bancada mineira do PMDB na Câmara).
O senhor considera uma traição o Temer não ter concedido uma pasta para a bancada mineira do PMDB na Câmara?

Desde o Império, Minas sempre participou de todos os governos, e com destaque. Então, não é possível que Minas não participe do governo agora. Isso a bancada não aceita. Querem conceder uma estatal para Minas? Não. Não queremos esmola não. Estatal por quê? Queremos compor o governo com Minas. Temos seis nomes (na Câmara) e, se não for eles, então escolha um mineiro ilustre daqui. Eu gosto muito do Michel, ele é meu amigo pessoal, estou sempre com ele, sempre vou a Brasília para jantar com ele, mas ele deixou de nos atender. Não diria que é uma traição. Eu diria é que ele não vai governar bem sem um representante de Minas. Por isso, hoje, temos uma bancada muito insatisfeita.

Na avaliação do senhor, como será o governo interino de Michel Temer?

O Michel me disse que o rombo nas contas é muito maior do que nós pensamos. A situação é gravíssima. E isso é na Previdência e no déficit público. Além do quê, a arrecadação está baixa. Então, ele não tem muita perspectiva não. Ele falou que vai ocupar um lugar, mas vai para minorar a situação do Brasil. E minorar não é melhorar, é minorar. Então, ele vai fazer um esforço muito grande. Vai enviar uma série de projetos para o Congresso para tapar buraco. Ele está muito preocupado. E, realmente, a situação do Brasil não é fácil. É difícil você pegar um país com 11 milhões de desempregados, com um déficit público imenso, e com um rombo enorme na Previdência. E o Osmar Terra (ministro do Desenvolvimento Social e Agrário) já falou que talvez tenha dificuldade de pagar o Bolsa Família neste mês agora. Ele disse que está com dificuldade. Pelo que ele viu lá, a situação é grave. Não pense que o Michel vai chegar lá, dar uma canetada e resolver as coisas porque a situação está muito difícil.

Mas o senhor crê que Temer terá apoio no Congresso para que essas medidas passem?

Sim. Porque os partidos vão apoiá-lo. O Michel está entrando com mais apoio do que a Dilma começou. Não tem ninguém contra. Mas, agora, é um preço caro para isso, né? Dando ministério até para bispo.

O projeto do PMDB, “Uma Ponte para o Futuro”, é muito criticado por petistas. A principal crítica é a de que esse plano é voltado para o mercado financeiro, e não para a população. E, além disso, que programas sociais irão acabar no governo Temer. Como o senhor avalia isso?

Nem Bolsa Família nem nenhum programa vai acabar. Porque se ele acabar com esse programas, ele acaba com o governo dele. O Bolsa Família é uma instituição que não pode acabar. Ele pode é racionalizar os erros possíveis, como, por exemplo, aquelas pessoas que recebem o dinheiro sem necessidade. Mas ele não vai acabar com nada.

Mas o senhor acredita que o presidente interino poderá aumentar impostos?

Não tem como ele começar o governo aumentando impostos. Se o Michel fizer isso, é o fim do governo dele. Não tem como, e ninguém pode pagar. E nós temos muitos (impostos) para receber. O Brasil tem R$ 3 trilhões para receber de impostos, e não recebemos nem 1% disso. O que ele pode fazer, e eu até comentei com o Paulo Skaf (presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), é perdoar algumas dívidas. Porque já que não tem como aumentar impostos, tem como ele fazer um perdão violento deles, como o ACM Neto fez na Bahia. E é esperar alguma coisa boa nisso tudo, porque o Brasil está um “salve-se quem puder”. Então, eu não vejo outra solução. A situação é muito pior do que a gente pode ver.

Mas vai dar tempo de Temer entregar a economia brasileira melhor?

A intenção é essa. Ele tem uma equipe muito boa, é bem assessorado, mas não tem como fazer nada a toque de mágica.

O PMDB sempre foi próximo do PT. Era uma aliança que vinha desde o governo Lula. Por que esse racha agora?

O PT é um partido que, eu diria, está fragmentado e em extinção. Isso pelos erros grosseiros que ele cometeu durante os anos, e eu diria até passível de punições na Justiça Eleitoral. Agora, o que eu acho ruim, e que eu desconfio, é que o (senador) Aécio Neves está entrando desconfiado nessa coalização (com Temer). E não há uma garantia de participação eterna no governo do Michel. Senão der certo, eles caem fora. É assim.

Na avaliação do senhor, a presidente afastada Dilma Rousseff contribuiu com esse afastamento dos partidos?

A presidente, coitada, é muito fraca. Não soube governar, não segurou a máquina pública e não segurou a despesa pública. Prometeu muito e não cumpriu nada. O país está em frangalhos. As obras estão paradas e não tem recurso nenhum. Foram R$ 90 bilhões de déficit público que ela mandou para o Congresso Nacional. Como você vai começar um governo com o déficit público de R$ 90 bilhões? Não tem como, né? E aumentar impostos é um gravíssimo erro. Se o Michel cogitar a volta da CPMF, como ela fez, nem o PMDB dá apoio.

E a relação do PT com o PMDB aqui em Minas Gerais?

Está inalterada. Nós não queremos contaminar o nacional com aqui. Sabemos que a situação daqui também é difícil, o governador (Fernando) Pimentel também não está tendo dinheiro nem para pagar a folha, e não queremos o pior para Minas. Nós (do PMDB) vamos contemporizar aqui, essa é a palavra certa, pela salvação de Minas Gerais.

Como o senhor avalia as críticas de que Temer também deveria ter sido afastado, uma vez que também assinou os decretos das chamadas pedaladas fiscais?

Isso já passou. O Supremo (Tribunal Federal) já reconheceu que não tem nada disso. E já tem uma manifestação da PGR (Procuradoria Geral da República) nesse sentido.

E essa discussão de que o impeachment da presidente afastada é golpe?

Olha bem, se a nação estivesse bem, ninguém derrubava a Dilma. O que derruba um governo não é a política, é a economia. Por que a Dilma tinha um bom índice de aceitação? Porque a economia estava boa, estava pagando todo mundo, fazendo obras, né? Quando ela caiu em desgraça, aí inventa pedalada, inventa tudo para derrubá-la. Porque essas pedaladas, na realidade, são a maneira que o Congresso encontrou para justificar a fome, a desgraça, a falta de obras. Ela não deu conta do governo. Não tem nada a ver com golpe, foi um subterfúgio, eu diria assim. A defesa do (José Eduardo) Cardozo, que é inteligentíssima, passaria, se o país estivesse bem.

Se fosse no governo Lula, o senhor acredita que essa situação teria sido diferente?

A mesma coisa. Com a economia ruim, seja com Lula, e até mesmo com o PMDB, teria ocorrido a mesma coisa.

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