K2, a maconha sintética, se dissemina como praga entre moradores de rua de Nova York
Era começo da tarde quando um homem com espasmos na perna foi arrastado do chão para dentro de uma ambulância. Outro, que vendia livros, lavou o vômito.Nova York, estados unidos.
Alguns dias depois, Charlie Medina se sentou no mesmo lugar, incapaz de se lembrar do próprio nome, antes de entrar em transe com a boca aberta e os olhos dilatados.
E os amantes. Eles não conseguiram encontrar um quarto. O moço tirou a camisa e o sutiã da moça e começou a beijar seus seios machucados enquanto uma pequena multidão se reunia para assistir à cena. As pessoas neste pedaço da rua 125 no East Harlem podem mudar, mas a droga continua a mesma: K2, também chamada de “maconha sintética”, uma mistura potente de ervas e substâncias químicas, que está sendo amplamente usada pelos mendigos da cidade de Nova York.
Sem rumo. O morador de rua Charles Medina fuma K2 enquanto Frank Holmer dorme no chão |
O quarteirão entre as avenidas Park e Lexington algumas vezes parece uma rua povoada por zumbis. “Aqui é a nação do K2”, diz um homem confuso antes de ir embora. Os quarteirões vizinhos são diferentes. Um supermercado da cadeia Whole Foods está sendo construído na rua 125. Um restaurante chique do chef-celebridade Marcus Samuelsson serve comida tradicional a preços altos aqui perto. Mas este pedaço é uma lembrança de como era o Harlem antes que o empurrão do desenvolvimento começasse – talvez até uma versão piorada daquele tempo.
Abrigo. Mendigos se acomodam como podem na estação 125th Metro North Railroad, no Harlem |
Porém, poucas pessoas acabam presas porque os produtores mudam frequentemente a mistura química à medida que as substâncias são proibidas. Recentemente, um homem de 47 anos chamado Green parou na rua 125 colocando um canudo de plástico dentro da orelha. Ele sofre de doença de Parkinson e diz que está se automedicando com K2.
“Algumas vezes acalma os espasmos. Algumas vezes só me deixa pior”, conta, arrumando as alças de uma mochila esfarrapada.
‘Se eu não fumasse, poderia ficar bravo’
Policiais conversam na rua West 125, esquina com Lexington, em NY |
Nova York. Michael Morgan, 46, passa a maioria dos dias sob um andaime perto de uma agência do Apple Bank na rua 125, balançando uma perna engessada, fumando K2.
A calçada se transformou em sua casa desde abril, depois que, segundo ele, os funcionários de um abrigo próximo o forçaram a sair quando suspeitaram que ele estava abusando fisicamente de sua namorada, Saida, 29. Antes do problema, os dois conseguiam guardar algum dinheiro pedindo esmolas e passavam horas usando drogas pela cidade, seguidas de recuperações lentas nas ruas.
De repente, um sorriso ilumina o rosto de Morgan, expondo os buracos onde seus dentes da frente um dia estiveram. Sua namorada chegou. Ela mostra um envelope cheio de K2. Morgan enrola um cigarro e acende.
Policiais apenas acompanham
Nova York.Incursões policiais nos bares da rua em julho resultaram no confisco de mais de 8.000 pacotes de K2, mas muitas das lojas continuam a vender a droga. Com isso, os policiais ficam só olhando enquanto os usuários acendem seus cigarros à luz do dia.
Então, quando caem nas ruas, os oficiais os carregam para ambulâncias. O K2 pode ser a droga mais popular por aqui, mas é apenas parte do mercado negro. Dois traficantes oferecem sacolas de maconha por US$ 5 na estação de trem Metro-North, e os moradores apontam para onde se vende heroína no topo da linha de metrô da avenida Lexington. Um quarteirão depois, um homem propõe comprar vales-refeição por metade do valor em dinheiro. “Alguém aqui está vendendo um bebê?”, perguntou um casal a um grupo de mendigos em uma tarde recente. “Um bebê?”, gritou um homem confuso. “Ouvimos que havia um bebê para vender”, respondeu o moço. O casal riu. “Não ligue para a gente, tomamos ácido”, disse a mulher.
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