DIREITOS HUMANOS PARA AS PESSOAS DE BEM, CADEIA PARA OS BANDIDOS

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terça-feira, 28 de junho de 2016

SANTA LUZIA Mais de uma morte por dia

Entre março e setembro de 2015, foram 225 casos no único pronto-atendimento da cidade

Lotada. Recepção da UPA São Benedito estava
 lotada ontem; na unidade, pacientes esperam
até quatro horas para serem atendidos
Criada para realizar atendimento pré-hospitalar, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) São Benedito, em Santa Luzia, na região metropolitana, funciona como um hospital. Pacientes, que deveriam ser transferidos em até 24 horas, conforme determina o Ministério da Saúde, têm ficado dias internados à espera de vagas em outras unidades. A situação teria piorado após fevereiro de 2015, com o fechamento do pronto-atendimento do hospital João de Deus. Desde então, a população só tem a UPA, também única no município, como opção. De março a setembro do ano passado, 225 pessoas morreram na unidade, mais de uma por dia.
O número é do Ministério Público (MPMG), que agora tenta identificar o porquê das mortes. Os promotores querem identificar o peso da falta de estrutura da cidade nessas ocorrências. “Chegamos a entrar com uma ação, mas perdemos. Agora, estamos tentando entender se as práticas da UPA influenciaram nos casos. Se a maioria foi de pacientes internados por mais de 24 horas, podemos responsabilizá-los”, afirma Gilmar de Assis, promotor e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde.
Na UPA São Benedito, reportagem encontrou
pacientes atendidos em macas colocadas nos corredores
A reportagem visitou a UPA São Benedito ontem e encontrou a sala de espera cheia, com cerca de 30 pacientes aguardando o primeiro atendimento. Segundo relatos, a unidade sempre opera no limite, com média de espera de quatro horas entre a triagem e o atendimento.
Os usuários confirmaram que a unidade se transformou no hospital local e que os pacientes que chegam em estado mais grave ficam internados mais de 24 horas. É o caso de uma moradora de 53 anos. O filho dela, de 31, estava internado havia 11 dias, aguardando transferência com suspeita de hepatite. “Falaram que iriam transferi-lo, mas até hoje (ontem), nada. Ele vai ter que receber alta, mesmo não tendo feito todos os exames. Não tem vaga em lugar nenhum”, lamentou.


Outra paciente, de 55 anos, aguardava atendimento ortopédico no local havia pelo menos quatro horas e contou que uma vizinha dela havia morrido na UPA fazia 15 dias. “Ela tinha 85 anos e teve um AVC, mas não foi transferida. Ela ficou mais de 15 dias internada e acabou morrendo. É um descaso com os idosos”, relatou.
Manobra. Segundo Gilmar de Assis, para evitar as internações prolongadas, a prefeitura construiu um novo hospital, inaugurado em dezembro de 2015. Mas o espaço, que deveria realizar 340 internações mensais, não está dando conta da demanda. E não há pronto-atendimento no local, apenas leitos para internação.
A Prefeitura de Santa Luzia não tinha se pronunciado até o fechamento desta edição. (Com Bárbara Ferreira e Luciene Câmara).

SEM RESPOSTA

Problema. O Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado de Saúde (SES) foram procurados, na manhã de ontem, mas não responderam sobre os problemas. A SES disse que isso é tarefa dos municípios.

SAIBA MAIS

Problemas. Segundo pacientes, exames como o de sangue e o de raio X levam, em média, cinco horas para serem liberados. Para esse último, o tempo de espera chega a dois meses. Usuários ainda afirmam que teriam que pagar por alguns exames feitos na própria UPA São Benedito, como o ultrassom, que custaria R$ 100. Procurada, a prefeitura não se pronunciou sobre nenhuma das questões.
Atendimento. Além do hospital municipal, a UPA encaminha pacientes para o Hospital Risoleta Neves, na região de Venda Nova, em BH. Por sua proximidade com a UPA, a unidade recebe pacientes para internação quando há vagas. São 368 leitos para esse fim no local. Ela é mantida pelo SUS.
Inauguração. A Prefeitura de Congonhas, na região Central de Minas, inaugurou parcialmente, ontem, a Unidade de Pronto-Atendimento 24h. O local terá 29 leitos para internação temporária.

Internação prolongada gera riscos

Conforme determina a Política Nacional de Atenção às Urgências do Ministério da Saúde, em vigor desde 2003, as UPAs podem internar pacientes por apenas 24 horas. Na análise do presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Fábio Guerra, a internação fora do recomendado pode gerar danos aos doentes.
“O papel da UPA é urgência e emergência, estabilização, liberação para domicílio ou encaminhamento para hospital. O local faz o atendimento da melhor forma possível, mas dentro das limitações. Mas falta equipamentos, e podem faltar equipes especializadas”, analisou.
Na tarde de ontem, a reportagem flagrou, na UPA São Benedito, em Santa Luzia, pacientes acomodados em macas nos corredores. “Quando tem sobrecarga de trabalho e pacientes mal-instalados em corredores, a condição do tratamento é comprometida, e os riscos de infecções podem aumentar”, concluiu Guerra.(DC/LC)
O Tempo

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