PT joga Militar contra Militar (blog): OURO PRETO Pimentel aponta para eleições

Governador disse que apenas voto direto e popular seria capaz de superar crise e legitimar um governo

Inconfidência. Ao lado de Pimentel, Mujica participou
de cerimônia em que recebeu a Grande Medalha

O Tempo

Os esforços do PT para defender a continuidade do governo de Dilma Rousseff (PT) e de classificar como “golpe” o processo de impeachment que a presidente da República enfrenta agora no Senado Federal marcaram nesta quinta a tradicional entrega da Medalha da Inconfidência, que reuniu cerca de 3.000 pessoas na praça Tiradentes, em Ouro Preto, na região Central do Estado.

No entanto, sem citar o nome da petista em seu discurso, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), sinalizou a tese de novas eleições, já discutida internamente dentro do partido, atentando que apenas o voto direto e popular seria capaz de superar a crise e legitimar um governo.

“A única fonte real de legitimidade na democracia é o voto, e é a ele que devemos recorrer quando crises institucionais agudas assolam e ameaçam a tessitura democrática”, afirmou Fernando Pimentel. Sob gritos de “Não vai ter golpe” e “Fora, Cunha”, o governador também condenou as “artimanhas jurídicas e políticas” e o “uso abusivo dos meios de comunicação para propagar meias verdades e teses ilusórias à população”.

Cerca de 3.000 pessoas se reuniram
no evento em Ouro Preto

Chamado à cerimônia como orador e principal homenageado para fortalecer os apelos contra o “golpe” no país, o senador e ex-presidente do Uruguai José Mujica se esquivou de opinar sobre a legalidade institucional do processo de afastamento de Dilma. Mas, questionado se consideraria o impeachment um golpe revestido de democracia, usou uma expressão popular para definir a questão. “Em meu país há um ditado: ‘Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem. Não gosto que joguem com o voto do povo”, disse Mujica, que foi aplaudido e ovacionado pelos militantes do PT, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e dos integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST). O ex-presidente uruguaio recomendou calma para resolver a crise política e econômica e disse que quem mais sofre com a situação é a camada mais pobre da população.

Responsabilizada pela oposição por deflagrar a grave crise econômica do país, Dilma Rousseff foi defendida pelo líder uruguaio. “Querem culpar Dilma pelo problema, mas não só o Brasil, como vários países capitalistas, enfrenta a crise em algum momento, que é consequência do sistema. Se tivesse Cristo ali, nem ele poderia resolver”, observou.

Sobre as consequências do impeachment na América Latina, Mujica foi categórico. “(A América Latina) vai continuar existindo e não vai desaparecer por causa de uma crise, porque já tivemos muitas, mas a luta e a vida continuam”, declarou.

Pacificação. Em seu discurso, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), pediu “fé e esperança no momento dramático que o país enfrenta”. Para o petista mineiro, seja qual for o desfecho do impeachment, o país precisa passar por um processo de pacificação.

Indiciado pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de influência na operação Acrônimo, o governador Fernando Pimentel se esquivou, como de costume, de falar das denúncias que pesam sobre ele e sua esposa, Carolina Oliveira. Nesta semana, o STF negou pedido de habeas corpus ao governador. 

Banho de água fria

Lula estaria tentando dar um banho de água fria na discussão interna do PT sobre o partido erguer a bandeira das “Diretas Já”.

Segundo a “Folha”, ele diz que a iniciativa teria que partir da própria presidente. E que, pelo que conhece da petista, ela “dificilmente” concordaria com a ideia.

No governo, no entanto, a discussão segue firme.

Homenagens

Entre os 148 homenageados que receberam a Medalha da Inconfidência estavam o ex-presidente uruguaio José Mujica, o ministro da Justiça, Eugênio Aragão, os deputados federais Reginaldo Lopes (PT) e Jô Moraes (PCdoB), além de militares, juristas, médicos, professores, advogados, jornalistas, historiadores, estudantes, religiosos e empresários.

Pimentel foi recebido na praça Tiradentes com honras militares e depositou flores no monumento do inconfidente. Foi acesa a Pira da Liberdade, e houve salva de 21 tiros. Todos os anos, em 21 de Abril, Ouro Preto recebe a transferência simbólica da capital do Estado.

Praça vira palco de protestos

Diferentemente da cerimônia do ano passado, quando a praça Tiradentes foi totalmente aberta ao público depois de 12 anos de gestões tucanas, o governador Fernando Pimentel isolou o local do evento e reforçou a segurança. Grades e barreiras policiais limitaram o acesso em função de manifestantes pró-governo.

A medida provocou confusão no centro histórico de Ouro Preto, antes do início da cerimônia. Um grupo de cem servidores da segurança e entidades de classe militares, liderado pelo deputado estadual Sargento Rodrigues, foi impedido de entrar na praça sob o argumento de não terem sido credenciados.

Policiais militares que faziam a segurança reagiram à tentativa de entrada jogando spray de pimenta nos manifestantes, como informou, por meio de nota, a assessoria de imprensa do deputado. O protesto com faixas e camisetas pretendia cobrar do governo de Minas o pagamento integral dos salários no quinto dia útil, que atualmente é parcelado em três vezes por decisão do Executivo mineiro.

“Cerca de 2.000 militantes do MST e da CUT, braços sindicais do PT, entraram na praça sem nenhum tipo de credenciamento ou identificação”, protestou Sargento Rodrigues.

Segundo os manifestantes, o impedimento configura uma grave violação dos direitos humanos, já que foram recebidos de forma truculenta pela tropa de choque da Polícia Militar de Minas Gerais. Impedidas de entrar, as movimentações do grupo não puderam ser ouvidas durante a cerimônia. No evento, o MST entoou palavras de ordem como “Liberdade ainda que tardia, nós vamos lutar juntos para acabar com a burguesia”.