DIREITOS HUMANOS PARA AS PESSOAS DE BEM, CADEIA PARA OS BANDIDOS

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segunda-feira, 14 de março de 2016

BELO HORIZONTE Dois perfis para uma bandeira

Diferenças de manifestantes nas praças da Liberdade e da Estação marcaram atos de ontem


O Tempo
A capital mineira recebeu ontem dois protestos que, segundo a Polícia Militar (PM), superaram os atos anteriores em número de manifestantes. No maior deles, na praça da Liberdade, o público chegou a 30 mil pessoas na manhã deste domingo. Na praça da Estação, não ultrapassou os 10 mil.
Apesar de terem bandeiras semelhantes, como a saída da presidente Dilma Rousseff, as críticas ao PT e ao ex-presidente Lula e o apoio ao juiz Sérgio Moro, o perfil de quem aderiu aos dois atos foi distinto. No primeiro, visivelmente mais elitizado, predominavam as famílias. No segundo, o evento foi pensado pelos organizadores para atingir uma camada mais popular – e alcançou o objetivo.
Praça da Liberdade. Por volta das 11h30, o público no local atingiu o pico de 30 mil pessoas, segundo a PM. Já os organizadores calcularam 42 mil. O número superou o recorde anterior de 25 mil, registrado em março de 2015, e foi dez vezes maior que o último, em dezembro passado, com 3.000. 

A praça ficou tomada por grupos organizados – Patriotas, Brava Gente e Mulheres da Inconfidência – e pessoas comuns. Em diferentes trios elétricos, eles entoavam gritos contra Dilma, Lula e o PT. As saudações de apoio foram para o juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato. Bandas de rock se revezavam cantando músicas dos anos 80, como “Que País É Esse”.
Os jardins foram tomados por famílias, com muitas crianças e idosos. Em um tiro ao alvo montado na praça, adultos e crianças tentavam “derrubar” um homem que se revezava com máscaras de Lula e de Dilma e comemoravam as “quedas”.
Diversos políticos da oposição circularam entre os presentes. Os senadores Aécio Neves e Antonio Anastasia, ambos do PSDB, foram alguns deles. Os tucanos não chegaram a subir nos carros de som para discursar, mas conversaram com a imprensa e populares.
Com a presença de 2.000 policiais no entorno, nenhum incidente foi registrado. O trânsito ficou congestionado até as imediações das praças da Savassi e da Assembleia. Por volta das 13h, três horas após o início, o público começou a se dispersar.
Boa parte das pessoas que deixava o local ensaiou uma descida para a praça da Estação, onde aconteceria o “Praça da Massa”. A adesão foi grande até a rua Espírito Santo, na altura do centro. No cruzamento com a avenida Augusto de Lima, moradores de prédios que colocaram panos vermelhos na janela foram hostilizados com gritos de “burro” e “a culpa é sua”.
A forte chuva que caiu no caminho, no entanto, esfriou os ânimos da maioria dos manifestantes, que tentou se esconder em marquises. O incentivo do locutor do trio que acompanha o grupo – “ninguém é de açúcar” e “a chuva vai lavar a alma” – foi em vão.
Praça da Estação. Quem resistiu à água até a praça da Estação não ficou lá por muito tempo. “Vim porque falam que é só elite. Aqui vi o que não tinha lá: povo. A indignação não é só da classe média”, disse o empresário Pedro Serra, 60.
Em menos de meia hora, o público alvo começou a chegar. A maioria era composta de pessoas mais simples, sem o “uniforme” verde a amarelo recomendado no outro ato. Muitos estavam ali porque já passavam pelo local ou optaram pelo centro pela facilidade de acesso ao transporte. No microfone, o discurso ganhou tom mais popular. O ritmo principal era sertanejo e funk. Outra diferença foi que políticos não circularam por lá. Até a cerveja era mais acessível, com o latão a R$ 5 – na praça da Liberdade, chegou a R$ 7.
O ajudante de mudança Francisco Souza, 30, aderiu ao “Fora Dilma”. “Chega de corrupção”, disse. “Há dois anos organizo protestos na praça da Liberdade e nunca tivemos esse povo que, mesmo que não entenda, recebe a informação”, disse a organizadora Marcela Valente(Com Joana Suarez)
Ato tem duelo entre moradores pró e contra-PT 
Da janela de um prédio na rua Espírito Santo, uma mulher balançava um pano vermelho. Sorridente, ela provocava os manifestante com sinais da vitória e o L de Lula. 

Na rua, pessoas que deixavam a praça da Liberdade e seguiam para a praça da Estação gritavam ofensas e palavras de ordem contra ela. O mais entoado era “nossa bandeira jamais será vermelha”. Em determinado momento, manifestantes pediam que ela pulasse da janela. 
O barulho acabou polarizando o resto do prédio e bandeiras do Brasil e faixas verde e amarelas foram colocadas nas janelas vizinhas. Uma camisa vermelha também surgiu em um outro andar. 
Cenas semelhantes ocorreram em pontos ao longo do trajeto, como na avenida João Pinheiro, onde uma mulher gritava “não vai ter golpe” da sacada. (Felipe Castanheira)

Comerciantes aproveitam para fazer um “extra”

Comerciantes do entorno da praça da Liberdade também aproveitaram a movimentação do protesto. Gustavo Román, dono de uma pizzaria na rua da Bahia, comemorou o público nas ruas e no seu restaurante, que recebeu muitos manifestantes nos protestos do ano passado. “Esse foi o maior de todos, com certeza. Vendemos tudo o que tinha”. 
Pela manhã, uma banca do Movimento Brasil Livre (MBL) vendia camisas, bandeiras do Brasil e pixulekos. Integrante do grupo, Cláudio Pereira disse que o movimento estava grande. “Está uma loucura, temos cem pixulekos, mas acho que vai acabar rápido”. No protesto da praça da Estação, à tarde, os organizadores também vendiam bonecos, adesivos e camisas com o Lula vestido de presidiário. Vendido em média a R$ 30, o pixuleko era o item mais procurado. Pereira explicou que o valor pago é usado para financiar gastos do apoio às manifestações.
Muitos ambulantes também aproveitaram o fluxo de pessoas para vender água, cerveja, refrigerante, pipoca, camisas do Brasil, faixas e bandeiras. Em duas horas, um ambulante disse ter vendido dez caixas de cerveja. Ao lado do Palácio da Liberdade, havia vários veículos de food truck. Vendendo hambúrguer artesanal, Matias Gomes disse ter faturado mais de R$ 3.500. Ele não se arrependeu em trocar o dia de folga pelo trabalho. 

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